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CINEMA

RETRATO DE FAMÍLIA COM TEATRO DE MARIONETAS

LE GRAND CHARIOT

 

Realização: Philippe Garrel (França)

 

CINEMATECA PORTUGUESA - MUSEU DO CINEMA - Sala M. Félix Ribeiro

13 de maio às 19h (ter)

 

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Realizador: Philippe Garrel Com: Louis Garrel, Damien Mongin, Esther Garrel, Léna Garrel, Francine Bergé, Aurélien Recoing Argumento: Philippe Garrel, Arlette Langmann, Jean-Claude Carriere, Caroline Deruas Peano Diretor de Fotografia: Renato Berta Público-alvo: +12

França, 2023, 96 min. / Legendado em português Primeira apresentação na Cinemateca

 

 

Esta é a história de uma família de marionetistas. Os irmãos Louis, Martha e Lena, que fazem espetáculos de marionetas sob a orientação do pai, que dirige a companhia, e a avó, que faz as marionetas. Juntos, ao longo de muitos anos e por onde quer que fossem, eles foram encantando plateias com as suas histórias. Mas o seu destino muda de forma radical, quando o patriarca morre subitamente. Enquanto se esforçam por lidar com a perda e manter viva a tradição familiar, cada um deles faz o que pode para encontrar o seu próprio caminho. Uma família de artistas dividida entre a transmissão e a emancipação.

 

Vencedor do Urso de Prata de melhor Realização no Festival de Cinema de Berlim de 2023, este drama familiar de Philippe Garrel, conta com as interpretações dos seus três filhos: Louis, Esther e Lena Garrel. Retrato de Família com Teatro de Marionetas explora o legado que deixamos aos nossos filhos.

 

Philippe Garrel fez um filme muito pessoal, mostrando o quão importante era para ele filmar junto da família. Os seus filhos são os atores desta família de marionetistas. Para isso, inspirou-se no seu pai, Maurice Garrel, que antes de se tornar ator, foi construtor de marionetas e marionetista na companhia de Gaston Baty, e o padrinho de Garrel foi o famoso marionetista Alain Recoing, criador do Théâtre aux Mains Nues, em Paris. Uma infância vivida e marcada pelo teatro de marionetas. Também não é por acaso que o realizador escolheu para o papel do pai, Aurélien Recoing, filho de Alain Recoing.

 

 

Nota de Intenção - Philippe Garrel

"Queria fazer um filme com os meus três filhos, que se tornaram sucessivamente atores ao longo dos últimos anos com outros realizadores (eu não queria certamente anexá-los a mim próprio, sendo o primeiro a contratá-los). Apercebo-me que representar a família é um prazer normalmente reservado aos pintores. Os meus filhos têm 22, 30 e 38 anos, por isso tinha de encontrar uma razão para estarem juntos nessas idades. Pensei em desenhar uma família de marionetistas, porque já houve muitos e porque ainda há alguns.

Quando eu nasci, antes de se tornar ator, o meu pai era marionetista na companhia de Gaston Baty, que incluía também Alain Recoing, que era o meu padrinho. Escrevi o guião com Jean-Claude Carrière, Arlette Langmann e Caroline Deruas.

Os atores e eu encontrávamo-nos todos os sábados para ensaiar todas as cenas do filme, bem como as partes dos espetáculos de marionetas. Gaston Baty escreveu estas cenas de repertório, tal como Eloi Recoing, um dos filhos de Alain Recoing. Gaston Baty fazia parte do Cartel com Louis Jouvet, Charles Dullin e Georges Pitoëff, ele escrevia e atuava no seu teatro de marionetas.

Quando eu era criança, estes artistas, que eram muito pobres, pareciam-me reis, e eu queria fazer um filme que, embora nascido na imaginação, imitasse um documentário sobre esta corporação (foi Jean-Luc Godard que disse que uma boa ficção deve ser também um documentário sobre alguma coisa). Vão encontrar neste filme a ideia que eu quero ver na desintegração de uma companhia de marionetas, a de uma metáfora de um mundo onde as tradições estão a morrer.”

 

 

"Le Grand Chariot de Philippe Garrel: um fresco familiar que combina o belo e o trágico

O cineasta reuniu os seus filhos num relato ficcional dos precários laços afetivos de um grupo de irmãos marionetistas após a morte do pai.

Tal como os maiores e mais feridos cineastas franceses - um François Truffaut (1932-1984), um Maurice Pialat (1925-2003), um Jean Eustache (1938-1981), uma Catherine Breillat - a obra de Philippe Garrel está, desde há meio século, profundamente entranhada no tecido da sua vida íntima. É possível que ninguém tenha ido mais longe nesta projeção conturbada e salvífica do eu, na constituição do ecrã como uma espécie de segunda pele. Os mais velhos recordarão um primeiro período de desgosto e de mineralidade, quando a consciência infeliz dos anos 70, a autodestruição com LSD e os amores à beira do abismo - a cantora Nico (1938-1988), a atriz Jean Seberg (1938-1979) - inspiraram um cinema underground, mergulhado no silêncio e no sofrimento, e gravado na mais extrema pobreza (...).

Devoção filial

Le Grand Chariot, um filme magnífico, revive este velho espetro e é ainda mais comovente pelo facto de Garrel apresentar desta vez todos os seus filhos, Louis (40), Esther (32) e Lena (22). Ele envolve-os nesta história de um grupo de marionetistas - exemplo da vocação cinematográfica transgeracional de Garrel - cuja figura tutelar, o pater familias, é interpretada pelo ator Aurélien Recoing.

Será, de facto, o autor a que se refere esta personagem do pater familias? O encanto da alquimia de Garrel reside no facto de não podermos ter a certeza. Sabemos que o ator Maurice Garrel (1923-2011), pai de Philippe, foi em tempos marionetista. A personagem do pai revela-se assim aqui, talvez, como uma condensação poética de Philippe e Maurice. Mas mais importante do que as chaves são os sentimentos. No centro do filme estão questões sobre a durabilidade de uma família, sobre a transmissão e a traição dos seus próprios valores (...). - Jacques Mandelbaum, Le Monde

 

“Novas lições sobre a arte de viver

Philippe Garrel mantém-se fiel ao desejo de expor os prós e contras das relações familiares e amorosas - o seu filme mais recente, Retrato de Família com Teatro de Marionetas, é mais um belo exemplo da sua visão singular.

Aos 76 anos (...), Philippe Garrel continua a ser um admirável solitário do cinema francês. Assim o confirma o maravilhoso Retrato de Família com Teatro de Marionetas (...), distinguido no Festival de Berlim de 2023 com o Urso de Prata de Melhor Realização.

A sua solidão não pode ser desligada do facto de Garrel ser uma espécie de derradeiro laço simbólico com os tempos heroicos da Nova Vaga, mesmo se desde os primeiros títulos da sua filmografia - com destaque obrigatório para Marie Pour Mémoire (1968) - a própria “filiação” no movimento nada tinha de militante, sendo sobretudo um reflexo do multifacetado contexto artístico da época (...).

Talvez que uma via sugestiva para apresentar as singularidades de Retrato de Família com Teatro de Marionetas seja um sublinhado para a contribuição fundamental do genial diretor de fotografia que é Renato Berta. Com um curriculum que vai de Alain Tanner a Jean-Luc Godard, passando por Eric Rohmer, André Téchiné ou Manoel de Oliveira (incluindo, em 2012, a sua derradeira longa-metragem, O Gebo e a Sombra), o trabalho de Berta alimenta-se da obsessão de criar acontecimentos visuais do mais puro artifício pictórico, embora conservando o esplendor “natural” que a imagem cinematográfica pode conter. Essa pode ser também uma porta de entrada no universo de Garrel: deparamos com a banalidade (familiar, sem dúvida) do quotidiano e descobrimos que vogamos no interior de um conto moral sobre a difícil arte de viver.” - André Cruz Martins, Diário de Notícias

 

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